domingo, 26 de novembro de 2017

EDIFER

EDIFER, empresa de construção civil com origem na Cabeça das Mós, Sardoal
No século XX, chegou ao topo nacional como   ”player” na construção civil 





Fernando Pires Coelho, nasceu em 1920 na Cabeça das Mós. Era duma família de carpinteiros, e cedo começou a profissão de carpinteiro.
Veio para Lisboa novo, trabalhou na carpintaria de Silvério Lourenço, que era da Presa, Sardoal. Estudou à noite na Escola Industrial Machado de Castro tirando o curso de Construção Civil,  e recordava muito o ter que ir para a bicha do carvão, estamos na época da 2ªguerra mundial a atravessar tempos difíceis.

 Trabalhou para vários patrões, havia pouco trabalho e era constantemente despedido, às vezes só tinha trabalho para uma semana. Até que prometeu a ele mesmo que ninguém mais o despediria, ia criar a empresa dele, decidiu avançar sózinho por volta de 1945.

Concorreu a pequenos trabalhos até que concorreu à remodelação do Quartel Militar de Elvas que correu muito bem. Foi o 1ºtrampolim, continuou a tomar obras e a dar trabalho também aos irmãos e a trazer trabalhadores da Cabeça das Mós e aldeias próximas.

Em 1953, constituiu a Sociedade de Construção Fernando Pires Coelho Lda, mais o sócio (cunhado) Amaro Lobato. Os irmãos como já se tinham afastado criaram também a sua Sociedade Pires Fernandes, e Irmãos Lda (Joaquim, António, Luís e Providence). Destaco dois casos de trabalhadores nestas Sociedades.
1-1960/1 o João Pereira da Cabeça das Mós,entrou na Sociedade do Fernando Pires Coelho, numa obra dos Olivais com Pareceria, conta como eram as condições difíceis nas obras em termos de dormitórios, pouco espaço, pouca higiene. Tem a história curiosa de sendo servente na Construtora Abrantina, apresentou-se como pedreiro nos Olivais em Lisboa, indo comprar ferramenta velha à Feira da Ladra, para parecer que já trabalhava à muito na arte! Claro, puseram-no à prova na feitura dum muro,foi muito duro.
2-1965 o Ti Bejamim mais os filhos João e Adelino da C.Mós, foram trabalhar para a Sociedade Pires Fernandes e Irmãos; vieram de comboio até SªApolónia, Lisboa e foram a pé para uma obra nos Olivais na Qª da Laje. Daqui foram para a obra da Estrela na R.Borges Carneiro, construção dum  prédio. O Eng da obra e dono fazia exigências anormais, estiveram só um mês e uma noite por ordem do patrão abandonaram a obra levando todos os materiais para outra obra a Escola Madre de Deus, terminando assim o contrato.

Na placa;  EDIFER:  Firmeza, Vontade, Perseverança    
                 Fundação 1966


 Neste percurso de família, em que concorriam entre si, decidiram dar um passo maior, e em 14 de Abril de 1966 criaram a:
EDIFER-Construções Pires Coelho & Fernandes, S.A.R.L. Unindo 5 irmãos e o amigo Amaro Lobato de Entrevinhas. Desactivando as ex-empresas.
O primo Carlos Alberto Pires Coelho que começou em 1961 na Sociedade do Fernando Pires Coelho, fez o depósito de constituição da EDIFER na C.G.D. em 1966, ficando a partir desta data como tesoreiro da Edifer e até 2006.
Em 1967 a Edifer inicia a actividade com a construção do prédio ao lado do Café Califa em Benfica, Lisboa.



                                  

1976-Aquisição de mais terrenos anexos às instalações da Venda Nova, o Fernando Pires Coelho viu a oportunidade e avisou os irmãos da vontade de comprar, e assim aconteceu, adquiriu:
-terreno nas costas e contiguo da Edifer que era da C.M.Amadora para oficinas e cresche.
-terreno oposto dos cabos Celcat, onde se instalou os dormitórios do pessoal deslocado.
-terreno oposto da PT, onde se instalou grandes oficinas.
Fez uma almoçarada com o pessoal e os irmãos não compareceram, passado pouco tempo todos lhe deram razão da visão para oportunidade de crescimento sólido da Edifer. 


                       

 Construções que foram marcos de crescimento da empresa
-1966 a1969 Palácio da Justiça de Lisboa,  deu-se o grande impulso na Edifer com esta obra.



-1988 com o projeto e a construção do Banco Lioyds, veio o prémio Valmor desse ano.


                       
-prédio da PT para instalação da central das Laranjeiras.
-museu de Etnologia, em Belém.
Obras que revelam a capacidade de resposta para construções com fins muitos diferentes, não se cingindo à habitação. Esta foi concerteza a 1º grande aposta.
Criando formação interna.
Criando condições e conseguindo a certificação ISO9001 e outras.
A Edifer chegou a ter 9081 trabalhadores, no auge da construçao civil em Portugal.

Ràpidamente os trabalhadores da EDIFER, na sua maioria de aldeias do Sardoal, como a Cabeça das Mós, Alcaravela, Serra; organizaram-se, contrataram uma camioneta que os levava à 6ªfeira á noite e os trazia Domingo à noite para Lisboa.


Organização tipo nas obras EDIFER
A empresa tinha um grupo de Arquitectos para desenhar os projectos e também contratava fora, chegou a contratar o Siza Vieira.
Em cada obra havia um só encarregado com um alvorado e um seguidor, lembro aqui alguns encarregados (3 irmãos da Cabeça das Mós)bons e muito respeitados a dirigir obras e homens:
            Ti Jerónimo Custódio ou “Mata Pretos”
            José Custódio
            Manuel Custódio
Depois havia um engenheiro que orientava geralmente mais do que uma obra e até três que visitava diáriamente. O engenheiro Gabriel Santos (vindo da Casa Pia) foi um dos primeiros.
Escritórios, oficinas,centro de formação, refeitório, cresche, dormitório e tribunal de justiça, na Rua das Fontainhas, Venda Nova. O 1ºmotorista de serviço foi o Ti Romeu na sede.
Vou destacar o tribunal, criado pelo Joaquim Bruno Pires Coelho para resolver sempre que possivel os problemas dentro da empresa, como acidentes de trabalho e problemas laborais com o pessoal.
Na Edifer estava o Sr Barata, que era duma companhia de seguros para ajudar a resolver os problemas de acidentes de trabalho.
Nas decisões do tribunal estava sempre o Joaquim Bruno Pires Coelho.
Na Páscoa, em Abril a EDIFER dava 1 mês de ordenado a todos os operários, com informação dos lucros e dos prejuízos e em que obra, por ordem do Joaquim P.Coelho.

Vencimento era mensal, o apontador ia a cada obra e levava os envelopes com o dinheiro de cada trabalhador.

Acordos entre empresas, para responder a grandes obras:
-ACE -> associação complementar de empresas por projecto, tem autonomia financeira, de recursos humanos e decisória em todos os momentos da obra.
-Consórcio -> contrato particular, são feitos relatórios mensais para as empresas e elas é que tomam as decisões, é um sistem mais difícil de caminhar, está sempre dependente.

Depois da crise mundial de 2009 a Edifer que já estava com dificuldades, foi-se agravando até ser vendida.

2016-a EDIFER foi adquirida pela “ELEVO” em conjunto com mais 3 empresas. Neste momento 16/11/2016 as instalações da Edifer na Venda Nova, rua das Fontainhas começaram a ser demolidas e o espaço vai ser utilizado na construção de um condominio fechado de luxo.




Histórias na Edifer
1-Episódio marcante na vida do Daniel Semedo; que fazia a manutenção de máquinas.
Estava a trabalhar em 1976 num prédio das Pedralvas, Benfica. Recebeu uma ordem vinda do Joaquim Pires Coelho da admistração para ir trabalhar para a obra do Palácio da Justiça, ele informou o encarregado “Mata Pretos” e foi levado pelo Ti Romeu para a dita obra.
Ficou a trabalhar no turno da noite, o Daniel conta que estavam a fazer os caboucos do Palácio da Justiça e andavam lá cerca de 200 marteleiros a abrir os caboucos em rocha. Ele andava com 2 bidons de 12l de gasóleo e funil a encher os depósitos dos compressores, reparava com braçadeiras os furos nas mangueiras que levavam a pressão, substituia correias e resolvia outros problemas. O encarregado desta obra era o Sr Quinas.
Uma noite depois de jantar apareceu lá o Joaquim Pires Coelho, equipou-se com roupa de segurança e pediu ao Daniel para irem ao fundo da obra aos caboucos. Ouviam-se os martelos mas a luz estava apagada. Disse ao Daniel para ligar o gerador, e logo a iluminação mostrou os martelos a trabalhar sem ninguém (estavam seguros). Saíram do fundo e o Joaquim perguntou ao Daniel pelo Sr Quinas ao que este respondeu que tinha ido  para o escritório e jantar, despediu-se e passado dias chamou o Daniel à administração à Venda Nova. Quando ali chegou os administradores estavam reunidos, a dada altura o Joaquim virou-se para ele e disse:
 você mentiu para mim, essa cartilha já a tinha deitado fora”, e acrescentou “tu mentis-me, nunca mais o faças, diz-me só a verdade, regista isso e fica com isso na tua memória”.
É claro que o Daniel sabia que o sr Quinas tinha ido jantar e, só costumava aparecer de manhã.
Depois disto, foi para lá o encarregado “Mata Pretos” e o Sr Quinas veio para o escritório, e ficou à espera de nova obra.

2-Cais das Colunas, na Pç Comercio, foi desmontado em 1996 aquando das obras do metro, pela EDIFER. Os 500blocos de pedra foram guardados nas instalações da Edifer na VendaNova e posteriormente a CMLx guardo-os, foi reinstalado 11anos depois tendo como dificuldade principal lidar com as marés.



3- Histórias de Vidas e ciclos de vivências,  ~1970 a 2000, Contratadores de camionetas mais ligados à Edifer:
            -Piçarreira e Florêncio de Alcaravela
            -João Matos de Entre Serras
Lembro-me do meu pai João Pereira, quando queria ir à C.Mós combinar a camioneta e íamos apanhá-la na 2ªcircular na Ponte da Luz às 19H de 6ª e regressávamos às 20H de Domingo da C.Mós.
            Era cómodo ir à aldeia, levar e trazer coisas, e no regresso de Domingo à noite era comum  a alegria e as “bebedeiras”.
Motorista José Machado- mora na Tesoureira, a Cabeço de Montachique; trabalhou como motorista na empresa de camionagem da Póvoa da Galega até  ~ 2005.
Práticamente durante 30 anos fazia muitos extras de fim de semana; a camioneta era alugada ao fim de semana, ia 6ª à noite e regressava no Domingo à noite, para levar o pessoal à terra, que trabalhava em Lisboa.
Terras de Sardoal, Vila de Rei , Tomar. Depois de deixar o pessoal ia a Tomar apanhar o comboio para Lx e no Domingo voltava para pegar na camioneta e apanhar o pessoal das terras e trazer para Lisboa, já pela noite dentro. Na época das festas em especial no Verão, era convidado a ficar numa das aldeias e fazer em média mais 2 serviços:
-no Sábado à noite levar o pessoal às festas
- e no Domingo de manhã levar as velhas à missa das 9H;
Ganhando o motorista, o contratador e a firma também um extra para gasóleo.
Neste ciclo de vivências, chegou-se a alugar camionetas a 3 firmas.
Os velhos reformaram-se, os filhos estudaram e ficaram a morar por Lisboa e arredores. Os que vão à terra já vão nos seus carros, de modo que acabou este tipo de transporte.

4- História do dinamismo empresarial da Edifer.
A Edifer de Albertino António Bernardo por Celso Filipe  25 Março 2012(Jornal Negócios)
Há quarenta anos, ia para a porta da Edifer, na Venda Nova, à espera do toque da sirene que anunciava a pausa para o almoço. Às vezes para entregar ao meu tio a marmita com a refeição, outras para lhe fazer companhia até casa.

O meu tio, Albertino António Bernardo, comprava madeira para a Edifer, fiando-se no olhar clínico de quem não tinha feito outra coisa na vida. Ele tinha orgulho na empresa do Coelho e do Fernandes, que por essa altura estava a singrar. E eu tinha orgulho nele, porque trabalhava numa empresa com nome e como sobrinho ainda tive direito, em uma ou duas ocasiões, a uma prenda de Natal. De vez em quando, também, visitava o grande armazém, espantado com a quantidade e a diversidade de madeiras que se acumulavam em pilhas gigantes. O meu tio era feliz na empresa e isso fazia-me feliz a mim. Quando se reformou, a Edifer fez uma festa bonita e ofereceu-lhe uma estátua evocativa da data, que ainda hoje guardo em casa. ......(inicio do artigo).


  
   


                                                                                          


Fontes:
            Livro dos 25anos da Edifer-1966 a 1991
            Carlos Alberto Pires Coelho
            Adelino Pimenta Lopes
            João Pimenta Lopes
Adelino Falcão
            José Pimenta Lopes
            João Pereira
            Daniel Semedo
            Internet, Celso Filipe
            Conferência no Palácio Bon Sejour-Lx, DªAlexandra Carvalho Antunes "Cais de Pedra",2017             José Machado, motorista dos fins de semana.

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